1. Introdução à Pipetagem
A pipetagem é uma técnica fundamental em laboratórios de biologia molecular e bioquímica. A precisão na transferência de volumes é essencial para garantir resultados confiáveis em experimentos científicos. Este manual fornece orientações detalhadas sobre como utilizar diferentes tipos de pipetas corretamente e seguir as melhores práticas.
Dica importante
A precisão na pipetagem pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de um experimento. Dedique tempo para dominar esta técnica fundamental.
Antes de começar qualquer procedimento de pipetagem, é importante entender os princípios básicos de funcionamento das pipetas e como diferentes fatores podem afetar a precisão da transferência de líquidos.
2. Tipos de Pipetas
2.1 Pipetas Volumétricas (ou de Bulbo)
Projetadas para dispensar um único volume específico. São simples de usar e geralmente mais precisas para o volume específico para o qual foram projetadas. Ideais para procedimentos repetitivos que requerem sempre o mesmo volume.
Descrição: Fabricadas em vidro ou plástico, medem um volume fixo com alta precisão
Uso: Preparação de soluções padrão e diluições críticas.
Vantagem: Alta precisão (geralmente classe A).
Limitação: Volume único (não ajustável).
2.2 Pipetas Graduadas
Descrição: Possuem escala para medir volumes variados. Requerem pipetador ou pera de sucção para aspirar o líquido.
Uso: Transferência de líquidos quando a precisão absoluta não é crítica.
Vantagem: Versatilidade para múltiplos volumes.
Limitação: Menor precisão que a volumétrica (erros de paralaxe).
2.3 Pipetas Pasteur
Descrição: Tubos de plástico ou vidro sem graduação.
Uso: Transferência rápida de líquidos não estéreis ou viscosos.
Vantagem: Baixo custo e descartáveis.
Limitação: Não fornecem medição precisa.
2.4 Pipetas Eletrônicas
Descrição: Utilizam motores para aspirar e dispensar líquidos, reduzindo a fadiga do operador e aumentando a precisão.
Funcionalidades: Modos especiais como dispensação repetitiva, diluição e titulação.
Uso: Ideais para procedimentos longos ou que exigem alta precisão.
Modelos: Podem ser monocanal (uma ponteira) ou multicanal (várias ponteiras).
2.5 Pipetas Monocanais
Também chamadas de pipetas automáticas, elas permitem ajustar o volume dentro de uma faixa específica. São versáteis e adequadas para laboratórios que realizam diversos procedimentos com volumes variados. Utilizam ponteiras específicas para cada capacidade.
Descrição: Instrumentos de precisão para volumes pequenos (0,1 µL a 1000 µL).
Modelos Comuns:
- P2: 0,2–2 µL
- P10: 0,1–10 µL
- P20: 2–20 µL
- P200: 20–200 µL
- P1000: 100–1000 µL
Uso: PCR, ELISA, análises moleculares.
Vantagem: Alta reprodutibilidade.
Limitação: Exigem calibração periódica e ponteiras específicas.
2.6 Pipetas Multicanais
Trabalham de forma similar as pipetas monocanais.
Descrição: Permitem a transferência simultânea de volumes iguais para múltiplos poços (geralmente 8 a 12 canais).
Uso: Essenciais para trabalhos com placas de microtitulação (ex.: 96 poços).
Vantagem: Economizam tempo em procedimentos de alto rendimento.
Limitação: Requerem ponteiras específicas.
3. Tipos de Ponteiras
3.1 Ponteiras Comuns (universais)
- Cores padrão:
- Azul ou incolor (1000 µL), amarela (200 µL), incolor (10/20 µL).
- Uso: Pipetagem geral de líquidos não agressivos.
3.2 Ponteiras com filtro
- Descrição: Contêm barreira de celulose para evitar contaminação.
- Uso: Manipulação de ácidos nucleicos, reagentes tóxicos ou PCR.
- Vantagem: Previne contaminação cruzada por aerossóis.
3.3 Ponteiras estéreis
- Uso: Experimentos em microbiologia ou cultivo celular.
- Obs.: Nunca reutilize ponteiras estéreis após o primeiro uso.
4. Utilidades da Pipetagem no Laboratório
- Montagem de reações químicas ou biológicas.
- Transferência precisa de volumes pequenos.
- Preparo de soluções e diluições.
- Coleta e distribuição de amostras.
5. Como Usar Micropipetas Corretamente
5.1 Ajuste do volume
- Puxe o botão giratório, e gire-o para regular o volume desejado.
- Nunca ultrapasse os limites máximo e mínimo da pipeta.
- Aperte o dispensador para travar o volume.
5.2 Colocação da ponteira
- Insira a ponta da pipeta na ponteira com firmeza.
- Encaixe firmemente para evitar vazamentos (nunca bata a ponteira).
- Não toque na parte inferior para evitar contaminação.
5.3 Aspiração do líquido
- Pressione o êmbolo até o primeiro estágio/ ponto de resistência.
- Mergulhe a ponteira no líquido (2-3 mm) (evite encostar no fundo do frasco).
- Solte lentamente para aspirar.
5.4 Dispensa do líquido
- Pressione até o primeiro estágio para liberar o volume.
- Pressione até o segundo estágio para eliminar resíduos.
5.5 Descarte da ponteira
- Ejete a ponteira diretamente no coletor de resíduos (não remova com as mãos).
6. Cuidados e Boas Práticas
- Nunca pipete sem ponteira.
- Evite inclinar excessivamente a micropipeta.
- Mantenha o equipamento sempre limpo.
- Use sempre ponteiras compatíveis.
- Não force o volume além do limite indicado.
- Treine a ergonomia para evitar lesões por esforço repetitivo.
- Nunca deite a micropipeta com líquido no interior.
- Calibração: Realize a cada 6–12 meses (ou conforme normas do laboratório).
- Armazenamento: Guarde na posição vertical (suporte próprio).
7. Principais Erros a Evitar
- Aspirar líquido diretamente para o corpo da pipeta.
- Ajustar volume com a ponteira já contendo líquido.
- Pipetar rapidamente, gerando bolhas.
- Não verificar se a ponteira está bem encaixada.
- Pipetar com angulação incorreta (causa subestimação do volume).
8. Segurança no Laboratório
- Utilize sempre equipamentos de proteção individual (EPI): luvas, jaleco, óculos.
- Pipete substâncias tóxicas sob capela.
- Conheça as fichas de segurança dos reagentes.
9. Manutenção e Conservação
- Limpe o corpo da pipeta com álcool 70% (evite acetona).
- Verifique vazamentos: Se houver resistência anormal busque manutenção.
- Lubrificação de componentes internos conforme indicação do fabricante.
- Checagem de vedação.
- Armazenamento em suporte próprio.
10. Glossário Rápido
Termo |
Significado |
Microlitro (µL) |
Um milésimo de mililitro (muito usado na pipetagem) |
EPI |
Equipamento de Proteção Individual |
Contaminação cruzada |
Transferência indesejada de substâncias entre amostras |
Capela |
Equipamento para manipulação segura de substâncias voláteis ou tóxicas |
Paralaxe |
Erro de leitura devido ao ângulo de visão (evite em pipetas graduadas) |
Aerossol |
Partículas suspensas que podem contaminar amostras ou o usuário |
11. Conclusão
Pipetar com precisão é um diferencial para qualquer profissional de laboratório. Treine com paciência, siga as orientações de segurança e mantenha o equipamento em perfeitas condições. Com o tempo, a pipetagem se tornará uma habilidade natural e indispensável.